Hoje, dia 31 de outubro, é celebrado em alguns lugares, o famoso Halloween. Em terras tupiniquins, chamamos de Dia das Bruxas. Apesar do Brasil ser um país que venera até demais a cultura estadunidense, o Halloween não pega aqui. A decoração de halloween nas lojas duram pouco tempo, e não ganham muito espaço. Quem mais se anima são os jovens, que investem em festas para vestir uma fantasia improvisada e se divertir, permitindo-se esquecer um pouco a vida adulta e suas dificuldades. Ele faz o destino dela...
Apesar de ser de 97, às vezes, me pego pensando sobre o que se trata essa data. Uma celebração que foi inspirada e adaptada de uma cultura x, e passou a ser moldada para ser uma data comercial. É tão vago na memória a origem dessa data, que nem vou me dar ao trabalho de falar sobre no momento.
Seguindo o sentido do nome usado aqui, "Dia das Bruxas" é, como a grande maioria das histórias e cuituras não ocidentais e cristãs, uma data carregada de opressão e preconceito. Antes mesmo da Igreja Católica sonhar em ser algo, a humanidade já tinha costumes, práticas e crenças muito antigas, passadas de geração em geração. E elas foram demonizadas, oprimidas e apagadas. Quem teimasse em seguir costumes de famílias e crenças ancestrais, não eram bem vistos pela Igreja Católica, instituição que ditava à moral e a ordem social da Europa.
Não bastando o apagamento de tradições antigas, a figura feminina foi brutalmente atacada. O foco eram mulheres que tinham o conhecimento sobre propriedades medicinais das ervas, usavam os elementos da natureza ao seu favor, respeitando-a e criando uma conexão com os frutos da terra. O foco eram mulheres que tinham conhecimentos esotéricos, usavam oráculos e tinham a intuição aguçada. No entanto, isso não foi o suficiente, mulheres que não seguiam a moral cristã também corriam perigo, mesmo não seguindo ou praticando nada místico e esotérico. Mulheres que apenas seguiam suas vidas. O que as condenavam era apenas uma coisa: ser mulher. E ainda tinha agravantes: ser velha ou viúva, ter vida sexualmente ativa, ter problemas mentais ou características poucos comuns para a época, como cabelos ruivos, por exemplo.
A inquisição matou centenas de mulheres, por preconceito, intolerância reliogiosa, misoginia e poder. Legado trágico que apagou milhares de anos de um conhecimento ancestral e mágico, em todos os sentidos possíveis.
Sempre tive interesse em trabalhar com livros e, por isso, muitas vezes voltava para o estudo da importância do surgimento da imprensa de Gutenberg, no ano de 1450. O que eu não fazia ideia, era que ao mesmo tempo que a imprensa revolucionou a disseminação de informações na Europa, a Inquisição queimava solta. E esses dois fatos se encontraram e dançando valsa: imprensa foi usada para disseminar ódio contra essas mulheres, com o objetivo de acabar com mal e o exército do Diabo. As perseguições aumentaram, ficaram mais estruturadas e organizadas, gerando lucros e "honra" para os inquisitores, na maioria, homens.
Um recorte da história e do contexto que foi deixado de lado, ignorado e quase apagado. E fica aqui meus devaneios tristes e indignados que surgiram lendo História da Bruxaria: feiticeiras, hereges e pagãs, de Jeffrey B. Russel, publicado pelo selo Goya da Editora Aleph.
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